terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Filó


Ontem à tarde, meio que parada no tempo na sala do meu trabalho, dediquei-me a caneta e papel e esbocei um texto que em seu desenvolvimento já estava tão meloso que senti náuseas e ânsias, pra quem me conhece, odeio “mimimi” e escrever um textinho cor de rosa não é minha cara (não critico e até admiro quem o faz, mas vindo de mim fica uma coisa tosca), mas como a introdução estava muito bacana e vi que dali poderia sair um dos meus melhores, poéticos e mais maduros contos pedi a ajuda de uma grande amiga, a Naianara Lisandra do "O tal do poder da mente" que também vive no universo da escrita, e estou maravilhada com o resultado de fundir a minha escrita livre com a dela mais elaborada, acho que o excentrismo cabido a nós duas é que fez o texto ficar tão uniforme e bom, se eu não contasse ninguém perceberia que duas pessoas de jeitos muito diferentes o escreveram. Agradeço a por ter me ajudado nessa, como em tantas coisas, não é mesmo? ;)
Obs: as partes em preto foram escritas por mim, as em cinza... Ah vocês não são bocós né? --‘




- Que tarde fria – pensei. Fria pelo ar condicionado no máximo, o que me irrita por conta da dorzinha na ponta dos dedos, e também pela confusão na minha cuca que já está “tam tam” de tanto pensar, talvez eu não tivesse que pensar tanto, seria melhor deixar a vida tomar o seu curso, mas como não sentir zonzear quando se sabe que está indo para os caminhos por onde nunca soube navegar? – Meu Deus, e agora? – pensei novamente meio aflita.
Uma, duas, três, quase quatro da tarde e eu me impregnava em pensamentos que (no fundo) eu sabia que não me levariam para lugar nenhum e eu continuaria com esse turbilhão de pensamentos soltos e vagos dentro de mim. Pois então, esses pensamentos puseram em duvida o que pra mim era inquestionável, mexeu com meus princípios básicos e fez ora do pouco que cultivei em mim. Não gritei, nem esperneei, esperei apenas para ver onde tais pensamentos me levariam e eles fizeram o que bem entenderam a bel prazer. Não que eu houvesse concordado, mas me calei para assistir sentada a recaída de todo o meu primado tão racional. Estou contradizendo-me, dando as costas a meus “princípios fatais” (nome estranho e idiota que dei a toda minha escrotidão barata), e me ponho avessa, tornei-me uma piada maldita de mim, mas não há riso para essa chacota, pelo menos não achei graça dessa minha reversão. Causa-me estranheza violar minha pose salto 15 pra no fim sentir-me essa bonequinha de sapatinho de cristal, vestidinho de filó e maquiagem leve, minha promiscuidade haverá sumido? Chegar a essa conclusão nessa tarde estranha me dá vontade de um cigarro, aquele mesmo que traguei um dia desses ao por do sol como se tragasse a minha alma na procura de porquês. Desalinhando-me desse jeito, que mais posso fazer além de roçar uma mão na outra a fim de que pelo menos a agonia de tal sensação se dispersasse aos poucos? Pensando bem, acho que foi nesse dia que tais pensamentos tomaram o leme da minha vida e criaram um novo curso. – Para onde irei com tal fragilidade à mostra? – pensei em meio a baixa temperatura que a esta altura já invadia célula por célula do meu corpo. Se tivesse me deixado no comando, o rumo seria outro e talvez eu teria dado a força que impulsiona minha vida para tal. Daria muito mais, se possível, além do que eu possa crer e jurar de dedos cruzados. Se eu estivesse no comando em nada me afetaria tais vertiginosos pensamentos. Mas não, veio cá no meu canto intimo, desordenou o que eu já tinha estabelecido, juntou uma a uma de minhas poucas expectativas e jogou-as no mar. Fiquei muda, sem cânticos, eis que me tornei a garota da razão furtada.
Engraçado que eu há muito pouco tempo estava adorando o gélido fato de toda vagabundagem em que me meti, agora ponho-me rangendo os dentes de inquietação pelo vazio impetuoso que invade esta sala – neste momento não direciono minhas palavras a uma sala física, estou me referindo ao tal órgão que bate nesse corpo – , corroí meu peito e sangra o que nestes tempos venho chamado de coração, eu nem mais lembrava que tinha um, era uma caixa gelada, e nesse instante pulsa depressa, e olha só mais uma piada vadia; ele está quente! Quanto paradoxo... Estou tonta, inquieta e sem um prumo, ora essa, me perdi em mim?! Eu daria a alma para por fim nessa dor do frio que está a estilhaçar-me aos poucos como se quisesse me sucumbir ou simplesmente me por um nariz de palhaça e me mostrar que na verdade sou tão calor que qualquer vento frio que me bate a porta me faz perder as estribeiras, desesperar o ser e questionar a vida, pra no fim me mostrar de fato que o salto 15 sim é uma piada e que a saia de filó me cabe muito bem.

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